quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Jantar com Edgar Morin

Há várias maneiras de conceber uma entrevista.
O sentido da palavra é encontro.
Encontro de diálogo.
Cláudia e eu fomos buscar, como sempre, Edgar Morin no aeroporto Salgado Filho.
Aos 90 anos de idade, ele chegou lépido e faceiro, passo rápido e sorriso franco.
Trouxe-me um romance filandês traduzido para o francês: “Purge”, de Sofi Oksanen.
Fomos para o hotel com ele tagarelando.
No caminho, recebeu uma ligação da nova “petite amie” (namorada, companheira), a marroquina Sabah Aboussalan, socióloga, especialista das cidades, interessada no “democracia e orçamento participativos” de Porto Alegre, que ficou no Rio de Janeiro.
Terminou a ligação romanticamente com uma palavrinha em português:
– Se ficar com “saudades”, me liga durante a noite.
– Eu te amo, meu querido – foi a resposta dela, com uma voz meiga.
Riu. Nós também.
Aí ele contou:
– Conheci Sabbah durante uma viagem ao Marrocos. Foi o começo de uma nova vida quase ao fim dos 80.
Depois de uma leva indecisão sobre um tema complexo: picanha ou camarão, optou por camarões, desde que gigantes , com a garantia de picanha no dia seguinte.
Por comodidade, domingo à noite, fomos a um restaurante de shopping center.
Erro fatal. Comida servida em prato quadrado.
É sempre ruim e afetada.
Grosso modo, para meu paladar, e da maioria dos franceses, só há cinco lugares onde se come realmente muito bem em Porto Alegre: Barranco, Gambrinus, Copacabana, Cachaçaria e Calamares. O resto é prato quadrado e comidinha enfeitada.
A moda é risoto, uma coisa parecida com vômito, sem gosto e melequenta.
Uma gororoba.
Morin quis tomar um cálice de vinho.
– brasileiro ou chileno?
– Chileno não. Está muito industrializado. Antes, era possível tomar um bom vinho chileno velho de 15 anos. Hoje, não. A fama fez mal aos vinhos chilenos. É melhor um argentino. Gosto dos cabernet sauvignon.
– É, a Argentina continua fazendo boa literatura, jogando bom futebol e produzindo bons vinhos – eu disse.
– E fazendo bons filmes – completou Morin. – Adorei O Segredo dos seus olhos.
– O tango também sempre vale a pena – emendou Cláudia.
Pedimos um bom vinho argentino.
– Um tinto com camarão? – provoquei.
– Podemos transgredir – ele riu.
Soltei a clássica pergunta chama conversa:
– E as novidadades da França?
Morin jogou-se para trás rindo…
– Sarkozy vai ser pai, DSK continua f…errado nos Estados Unidos, embora comendo trufas e morando no luxo, os socialistas não têm um bom candidato para as eleições de 2011…
– O candidato dos socialistas era DSK, não?
– Sim, ele era o melhor candidato de esquerda…
– Por ser de direita?
– Isso. Era o que mais tranquilizava os conservadores. Tu lembras do slogan de Mitterrand?
– La force tranquille?
– Sim. DSK, antes dessa história de Nova York, foi fotografado dirigindo um porsche branco. O slogan dos socialistas passou a ser “la porsche tranquille”.
– E a crise na Europa?

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